Eu não sou obrigado a te educar

André Sobreiro
André Sobreiro
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2 min readOct 29, 2020

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Eu sou gay. Gay casado em um relacionamento aberto. Gay HIV+ casado em um relacionamento aberto sorodiscordante.

Tem muita coisa nessa frase que pode gerar dúvida nas pessoas. SObre a vida gay, sobre relacionamentos abertos, sobre minha sorologia, sobre relacionamento sorodiscordante. É muita coisa. E eu tenho zero obrigação de esclarecer as pessoas sobre cada uma dessas pessoas.

Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria. Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Sempre que eu vejo debates sobre pessoas trans pela internet e elas falam que não tem obrigação de educar as pessoas, eu penso nisso. Elas estão mais do que certas.

Eu não sou pai de ninguém, não tenho a obrigação de educar as pessoas. Mas, sempre que existe a abertura, eu educo. Isso quer dizer que as pessoas trans, as pessoas negras e todas as outras populações minorizadas estão erradas? Não mesmo, estão certíssimas.

Isso me faz um ser superior por me colocar nesse papel? Não mesmo, me respeita viado. Mas eu faço isso, quando eu posso. Não por precisar, mas por querer.

Eu entendo que informação e educação são poderosas ferramentas de transformação para a busca de uma sociedade com mais equidade. E é aí que eu entro: se eu posso fazer algo com a minha experiência, eu faço de coração aberto.

Mas eu faço só com quem eu enxergo uma mínima possibilidade de diálogo. Não tô aqui para ser pai ou mãe de ninguém. E, mais de uma vez, já senti o peso que esse papel pode exigir. E não quero. Mas trocar, ajudar alguém disposta a evoluir? Ok, eu topo.

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André Sobreiro
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Vivo de internet e cultura! Edito esse blog, o Salada de Cinema e muito mais coisa por aí!